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Bandidos da terapia

  • há 4 dias
  • 2 min de leitura
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Profissionais que deveriam prestar serviços de saúde para crianças com TEA se preocupam mais com o que ganham do que com o desenvolvimento do paciente

 

Não são todos, mas existe uma prática repugnante entre os profissionais que vendem terapias para crianças com atraso de desenvolvimento.

 

Trabalhando na área, vejo neuropediatras (alguns vinculados a certas clínicas) prescrevendo 40, 50 e até mais horas de terapia por semana, para as crianças. Quando somo as horas úteis da vida de um filho - levando em conta o tempo de escola, de dormir, de brincar, de comer, de se deslocar - os cálculos não fecham.

  

Em 2024, diversas associações (Autistas Brasil, Abraça, VNDI) denunciaram ao Ministério dos Direitos Humanos a prática disseminada nos planos privados de submeter crianças autistas a jornadas terapêuticas longas (às vezes acima de 40h/semana), sem ganho proporcional no desenvolvimento. Elas qualificam essa prática como “uma forma moderna de regime manicomial”. Embora sem confinamento físico, haveria um controle desproporcional sobre a vida da criança.

 

O presidente da Autistas Brasil, Guilherme de Almeida, ressaltou que, quando a criança passa o dia todo na clínica, ela perde oportunidades de socialização, acesso à educação e até de lazer, em prejuízo de seu desenvolvimento global. Essas entidades questionam a premissa de que “mais horas de terapia = melhor evolução”, argumentando que essa justificativa não leva em conta as necessidades individuais, a autodeterminação e a dignidade da pessoa autista, forçando-a a se adequar a expectativas neurotípicas. Em resposta a essa mobilização, o Ministério dos DH instaurou em 2024 uma Câmara Técnica para discutir a regulamentação das terapias para TEA.

 

Uma pesquisa importante publicada no JAMA Pediatrics em 2024 (Sandbank et al.) examinou a relação entre intensidade da intervenção e resultados em crianças autistas. A conclusão foi que a quantidade de horas, por si só, não se correlaciona de forma consistente com melhores resultados de desenvolvimento. Ou seja, mais horas de terapia não significam necessariamente mais progresso. Essa meta-análise reforça a importância de definir a “dose” terapêutica ideal caso a caso, considerando fatores como o perfil e nível de suporte da criança, comorbidades, tipo de terapia e contexto familiar.

 

Inclusive, excesso de sessões pode levar a sobrecarga emocional na criança e família, prejudicando a adesão ao tratamento e a convivência familiar saudável. Em linha com esses achados, estudos de 2025 alertam para os riscos de prescrições padronizadas sem individualização – especialmente a “receita” fixa de 40 horas semanais para todos os casos, que pode não ser necessária para alguns perfis e inviável para muitas famílias.


A melhor terapia não é a mais longa, e sim a mais adequada: definir a carga horária com base em evidências e personalização é o caminho para resultados efetivos e sustentáveis. Essa decisão deve envolver diálogo entre médicos, terapeutas e familiares, focando na qualidade da intervenção e no bem-estar da criança – e não meramente em atingir um número elevado de horas.

 

Ainda mais, os Conselhos de Ética Profissional estão sendo omissos. Mas o caso é de polícia e como tal deve ser tratado.


Uma pena a imagem dessa categoria chegar a esse nível.

 
 
 
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