Miriam, não caia nesse choro
- elano53
- 17 de abr.
- 2 min de leitura

Importadores e distribuidores de órteses e próteses reclama de inadimplência dos seus recebimentos.
A equipe da Miriam Leitão acabou de publicar matéria com base em pesquisa da ABRAIDI – Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos para a Saúde. O conteúdo alerta para um calote em 2024, de R$ 4,5 bilhões em próteses, órteses e outros dispositivos médicos implantáveis, supostamente praticado por hospitais e planos de saúde. A associação até exagera, sustentando que o seu setor “sofre” com o não pagamento de tais valores, que significariam 36% do faturamento das associadas.
Não é bem assim.
Estamos falando aqui de um setor poderosíssimo, que financia fortíssimas campanhas, usando desde profissionais da saúde, passando por eventos de grande porte e até respeitados veículos de comunicação, para induzir ao uso massivo de dispositivos de saúde.
Sem perder de vista a importância desses equipamentos para os pacientes, é preciso jogar luz também nos excessos. Hoje, todos sabem que circula muita comissão na distribuição desses produtos.
Já me deparei com caso de substituição de prótese auditiva em que, mesmo estando perfeito o equipamento em uso, ainda assim o médico prescrevia um novo modelo, porque o mais recente tinha o efeito Surround. E teve liminar para isso; até explicarmos bonitinho ao Juiz.
Vi caso, de criança, em que a prescrição envolvia próteses biônicas, de custo superior a meio milhão de reais (uma unidade), e o fabricante intencionava trocar de tempos em tempos o mesmo produto, para "melhor adequação ao crescimento do paciente"; mesmo que a principal característica do referido equipamento, segundo o manual, seja a adaptabilidade.
Tem também as tantas cirurgias que não existiram e os vários materiais que jamais foram implantados nos pacientes, objeto de inúmeras manchetes de investigação da Polícia.
Olha, tem muita coisa absurda nesse mercado. E as cifras são altas demais para alguém enfrentar tal lobby. Poucos, como nós, tem essa coragem.
Segundo o Estadão, as fraudes aqui geram cerca de R$ 20 bilhões de prejuízos anuais, apenas aos planos de saúde. Então o valor reclamado pela ABRAIDI não chega a 25% dos desvios.
Ora, está claro que, para fazer frente à queda do excedente, dada a intensificação do combate às fraudes, a ABRAIDI tem investido bastante nesse “choro” de que a retenção do faturamento prejudica os importadores. Uma simples pesquisa em qualquer buscador da internet mostra a repetição desse mesmo discurso, desde 2021. É institucional.
Muito me espanta uma coluna tão séria e de reputação admirável, como é a da Miriam, escorregar nesse tema e dar palco a essa conversa mole.
Os distribuidores de dispositivos são essenciais para a saúde sim, mas não são nadinha santos. Estão querendo surfar na mesma onda das glosas reclamadas pelos hospitais privados, para reivindicar o recebimento dos seus materiais. Sabe-se lá por que os valores estão em discussão, né?
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