Uma pequena Unimed e seu grande prejuízo
- elano53
- 23 de mar.
- 2 min de leitura

Operadora de 11.000 vidas tem prejuízo de R$ 65 milhões e deve R$ 180 milhões em processos.
Passeando entre os piores resultados divulgados pela ANS, chamou atenção um prejuízo contábil de R$ 65 milhões, para uma operadora de apenas 11 mil vidas. Ela é de Manhuaçu, município brasileiro de Minas Gerais.
A pequena cidade tem uma população de 96.545 habitantes e 12% dessas pessoas possuem plano de saúde da Unimed Vertente do Caparaó.
Na dimensão do município, trata-se de uma significativa participação. Mas, na classificação de porte dos planos de saúde, ela é uma pequena operadora que, no ano de 2024, teve prejuízo de gente grande.
Seus representantes informam que foram vítimas de um golpe praticado pela Sempre Saúde Administradora de Benefícios, a qual deixou de repassar as mensalidades dos clientes, acarretando um rombo de R$ 124.161.074,76.
Com isso, a pequena Unimed não conseguiu quitar nem suas obrigações dos atendimentos no intercâmbio e está sendo executada pela Unimed Brasil em R$ 70.994.757,55.
Além disso, a Unimed Vertente do Caparaó figura como ré em outros 1.288 processos judiciais - passivo aproximado de R$ 109.347.632,76.
Manifestações dos clientes, junto ao Reclame Aqui, desde 2022, chegam a presumir que o plano de saúde teria falido e fechado.
Por sua vez, a ANS já instaurou o regime de Direção Fiscal e Assistencial, bloqueou os bens dos administradores e passou a intervir na gestão, com o propósito de encontrar uma solução para o desastre.
Não me lembro de uma situação mais representativa que essa, no setor de saúde suplementar – e olhe que já vi muita desgraça. O que mais assusta nesse cenário todo é: como essa operadora ainda está funcionando?
Para se ter ideia, a cooperativa diz que não tem dinheiro nem sequer para pagar as custas judiciais de apelação, nos processos em que perde. Foi daí que obtivemos todas essas informações.
Segundo seus balanços, ela iniciou 2023 com um prejuízo de R$ 7 milhões e terminou o mesmo ano com resultado negativo de R$ 19 milhões. Ao final de 2024, o prejuízo já acumula R$ 65 milhões. É uma bola de neve.
Atenção para o tamanho do risco. Uma cooperativa tão pequena acarreta dano de R$ 71 milhões apenas dentro do próprio sistema Unimed. Isso quer dizer que não são apenas seus 11.000 clientes que sofrem com o problema.
Esse é um belo exemplo do potencial destrutivo que mesmo as pequenas operadoras possuem. Não é só a Unimed Paulistana, a Rio, a Nacional que podem quebrar o cooperativismo. Aliás, além delas, aposto que as várias Unimeds Vertente do Caparaó que existem por aí são as gotas de água (e que gotas!!!) que enchem o copo de dívidas - ou, até para dizer melhor, o balde de dívidas - do sistema Unimed.
Mesmo num ano que foi excelente para os planos de saúde, com lucro geral de R$ 11 bilhões, a gestão nas cooperativas continua a fazer água.
Continuo a repetir: o maior desafio do setor hoje não é plano acessível, revisão técnica, franquia, coparticipação etc. A verdadeira crise que precisa ser enfrentada de vez é a composição do sistema Unimed, suas responsabilidades e soluções de sustentabilidade.
ANS, fica a dica.
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