Risco de desequilíbrio na relação idosos x crianças
- 20 de fev.
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Pacto intergeracional é um dos pilares do mutualismo nos planos de saúde e pode estar ameaçado com a mudança da pirâmide etária.
Os planos de saúde atingiram 52,2 milhões de beneficiários em dezembro de 2024. O número recorde aponta para um crescimento do setor de 10,90% nos últimos cinco anos. No entanto, houve um aumento mais acentuado nas faixas etárias de adultos e pessoas idosas, e uma diminuição dos beneficiários de zero a quatro anos, o que pode trazer um impacto no mutualismo.
O chamado “pacto intergeracional” equilibra as contas dos cuidados à saúde. A regra é a seguinte: usuários jovens pagam uma mensalidade acima dos seus custos médicos, para contribuir com o público mais velho, que demanda mais do sistema pelas necessidades de cuidados de saúde naturais do envelhecimento.
Por isso, a tendência de ampliação das faixas mais velhas e redução das mais jovens acende um alerta no setor.
Enquanto a faixa etária de 45 a 49 anos teve um aumento de 30%, com um acréscimo de quase 1 milhão de pessoas no período de cinco anos (2019-2024), a faixa de crianças até quatro anos perdeu mais de 315 mil beneficiários. O grupo de usuários recém nascidos, de até 12 meses, teve uma redução de 16,8%, enquanto crianças de um a quatro anos tiveram uma redução de 7,3%. Novos usuários acima de 60 anos concentram 1,2 milhão dos beneficiários entrantes.
Segundo especialistas, a mudança do perfil dos beneficiários é reflexo da redução da natalidade no país e do aumento da expectativa de vida. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que o Brasil teve em 2022 o menor número de nascimentos desde 1977, de 2,54 milhões. Já a expectativa de vida do brasileiro chegou a 76,4 anos em 2023. E eles alertam que isso pode trazer impactos nas mensalidades com o passar do tempo. Assim, planos de saúde podem aumentar o preço de todas as faixas etárias para compensar o desbalanceamento.
Entre dezembro de 2019 e dezembro de 2024, os planos de saúde médico-hospitalares ganharam 5,1 milhões de beneficiários, atingindo o número recorde de 52,2 milhões de pessoas com convênios médicos no Brasil. Além da redução do desemprego, a mudança da percepção da população sobre a saúde, após a pandemia de covid-19, teve impacto no crescimento do setor.
A perspectiva dos especialistas é que siga um crescimento controlado ao longo de 2025, caso o cenário econômico e financeiro do país continue estável. No entanto, debates da ANS em torno da política de preços e reajustes, assim como a proposta de um novo modelo de planos de consultas e exames, podem ter impacto na saúde suplementar.
“O aumento de pessoas idosas em planos de saúde é reflexo de um fenômeno global, o envelhecimento da população. Ou seja, isso se reflete também na população de beneficiários. É um dado previsível, dadas as projeções demográficas ao longo dos anos. Temos essa expectativa do envelhecimento da população”, observa José Sestelo, doutor em saúde coletiva e pesquisador do Grupo de Pesquisa e Documentação sobre o Empresariamento da Saúde(GPDES), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Entre as faixas etárias que mais cresceram, está a de 75 a 79 anos, que teve um aumento de 27%, com mais de 223 mil novos beneficiários. A faixa dos 70 a 74 também aumentou de forma expressiva, com 26,1%, equivalente a 301 mil novos usuários. No setor, pessoas acima dos 60 anos representam cerca de 15%, mas a perspectiva é que esse número se amplie gradualmente.
Levantamento da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), produzido com associados em 2023, apontava que os custos com TEA representavam 9,13% das operadoras.
Dados da ANS analisados pela Arquitetos da Saúde mostram que entre beneficiários de cinco a nove anos, atendimentos ambulatoriais e terapias correspondem a 59,5% dos gastos médicos, número muito acima das outras faixas etárias. O mesmo fenômeno é possível nas internações de pessoas acima dos 80anos, que correspondem a 55% dos custos assistenciais.
Entre as soluções debatidas pelos especialistas estão a redistribuição das faixas etárias nos planos de saúde e a criação de modelo de produtos mais baratos, como o que a ANS está tentando emplacar agora.
As informações são do portal Futuro da Saúde.
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