Gosto de fazer esse comparativo, entre planos de saúde e companhias aéreas, para mostrar a evolução do conceito de gestão, numa e noutra.
Quem viajou pela antiga companhia aérea Varig, deve ter comido filé no almoço ou no jantar. Certamente escolheu entre vinho tinto e branco para acompanhar. E o resultado desse formato de gestão nos dias de hoje? Falência.
Até pouco tempo, meu plano de saúde era Bradesco. Excelente. Jamais me negou absolutamente nada. Por um preço justo, proporcionava-me os melhores hospitais e médicos. Acontece que, infelizmente para nós, consumidores, assim essa conta não fecha.
Operadora de rede ampla e auditoria frouxa significa um horizonte sedutor para as fraudes. Atrai oportunistas para lhe sugar o que pode. O Brasil não é para amadores.
Bem, no caso da Bradesco, ao se ver rodeada de tubarões, a opção da empresa foi reformular a política de preços e de atendimento, mas, ao que parece, para gerar propositalmente a insatisfação dos consumidores, estimulando-os a desistir do plano. Pelo menos foi o que aconteceu comigo.
Os efeitos, tanto das fraudes como das novas políticas, refletem nos resultados da operadora de hoje. Segundo o que foi divulgados pela ANS, sobre o 1º semestre de 2024, a sinistralidade da Bradesco atingiu 91,8%. Isso acontece numa realidade em que as demais operadoras de mesmo calibre reduziram o custo assistencial para patamares inferiores a 80%. Neste particular, a Bradesco está pior, inclusive, que várias Unimeds.
Nesse semestre, o prejuízo operacional dela foi o maior do setor, na casa dos R$ 482 milhões; sinal claro de que sua gestão está fazendo água na operação de planos de saúde. Pode ser o maior banco, o melhor seguro, etc... mas plano de saúde tá fora do seu core business, no modelo atual da atividade.
É uma pena que o conceito de serviço de boa qualidade, de fartura, não sobreviva mais quando se encara a saúde como um negócio. Desde 1988, quando a Constituição permitiu que o particular explorasse esse ramo, é assim que tem que ser. Trata-se de uma atividade que deve cuidar do lado humano, mas depende de resultado econômico também, sob pena de falir. Isso precisa ter um equilíbrio.
Curioso que a Sulamérica, companhia que caminhou lado a lado com a Bradesco todo esse tempo, conseguiu evoluir seu modelo de gestão, manteve razoável qualidade dos serviços e está muito bem, obrigado.
Isso quer dizer que o problema, então, não é do mercado, mas dos homens que pilotam a companhia.
Espero, sinceramente, que não seja tarde para a Bradesco.
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